segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Ostara

    Quero escrever pra não perder nenhum detalhe. Para processar. Minha vontade agora era me perder nas redes sociais, como de costume. Mas estou lutando pra ser uma Luiza diferente. Uma Luiza que se ouve e não deixa ser silenciada pela vida alheia. 
    Ontem foi um dia intenso em todos os sentidos. A Ostara! Momento de celebração da primavera. 
Peguei minhas roupas coloridas, meu brinco de bougainville, arrumei minha mala com meus objetos que faziam sentido pra mim. Levei minhas contas de Yemanja e Oxum, meu quartzo rosa e meu pauzinho de cabelo indígena. Pensei várias vezes no que levar, em como levar, porque levar. Dessa vez eu estava na presença, apesar das adversidades. Cheguei em casa super tarde, depois de um dia puxado com pátio praia, banho de mangueira e criança fazendo coco na sunga. Ainda tive o reforço do Pierre. Ele foi pra casa da Claudia mesmo ela combinando de não ir no dia. Atrapalhamos o momento e o seu espaço. Esqueci completamente de que tinha trabalho de interpretação no dia seguinte, dia que iria para Lumiar realizar o círculo. Foi um dia desafiador. Mas fiz questão de olhar item por item, rever, reconfigurar, planejar os meus passos.
    Acordei cedo, bem. Com sono sim, mas disposta. Animada. Era consagração dos Ninos Santos, quebra de padrão. Tantos padrões precisam ser quebrados.
Decidi pegar um uber, não chegaria a tempo de metrô. No fim das contas, quem atrasou foi o motorista. Quase 1h de atraso. Ok, tudo bem, nada poderia dar errado. Entramos, meio velha, caindo aos pedaços. Mas tudo bem. Parada 1 para abastecer. Lanchamos com o que dava pra lanchar. Tiramos fotos para a partilha no grupo. Durante o trajeto falamos de diversas coisas.  Astrologia , auto escola, teatro, inseguranças. Tarô, sonho de ser piloto, gostar de azul. Na última parada o motorista pergunta ao frentista se na serra havia mais postos gnv e ele responde que sim. Confiante em sua palavra, o motorista segue viagem. Ao se deparar no pedágio percebemos que ele não tinha dinheiro. Pede para nós, para futuro desconto. Até aí, estranho mas tudo bem.
    Ao chegarmos em Mury, deparamos com o fato de que não havia gnv na serra. E que o carro não estava funcionando na gasolina. Uma correria sem fim. Ele para no estacionamento do mercado serraazul de Mury, grande, imponente, chamativo. E de lá começamos pensando em soluções. Ele tenta entrar em contato com a Gi, facilitadora da roda. E nada. E aí que me vem a grande ideia. Vou ligar pro Vinícius! Ele conhece Lumiar como ninguém é motorista, sabe bem sobre os postos da cidade. Grande solucionador de problemas, com certeza vai nos ajudar! Ligo e o coloco em contato direto ao motorista. Conversa vai, conversa vem e ele se liga que o carro não está em boas condições. Como que alguém que sabe conscientemente que o carro está no estado que está e aceita uma viagem levando mulheres? Enfim, achamos a solução. Pedimos 2 ubers. E subimos até o local. Chegando lá,  Juli e Lu estavam preparando arranjos de flores. Fiquei animadíssima e me enfiei nesse preparo. E nesse momento cometi meu grande erro. Esqueci de retornar o Vinícius. Esse assunto ficou tão mas tão forte depois da roda que ainda não tive tempo de processar absolutamente nada da roda, 2 dias depois de ocorrido. Mas vamos voltar à recapitulação, vamos ver se consigo pelo menos reconstruir os meus passos na roda e ter material para processar tudo. O primeiro movimento foi de partilha, por que estamos lá, qual é o meu grande desafio e o que me fez ir à roda. Disse que é muito difícil ser filha da minha mãe. Minha mãe se vulnerabiliza demais. E essa é a minha referência de vida. Quando saio do seio de minha mãe, percebo que não posso ser vulnerável. Quer dizer, posso sim. Mas no lugar e na hora certa, com as pessoas certas. Minha mãe aos 60 anos de idade ainda é vista como a neném da família. Não quero repetir padrão, eu quero crescer! Quero fechar meus ciclos e deixar minha insegurança de lado. Terminar a faculdade, tirar minha CNH, ser finalmente adulta! Era esse o meu objetivo lá. A cada fala eu me emocionava. A cada fala eu conseguia sentir a dor da outra. Mesmo sendo opostas às minhas.
Iniciados os trabalhos, fomos amarradas. Pés e mãos atados, tivemos que dançar. Mas não era qualquer dança, eram danças de músicas que me ferem particularmente a alma. Eu não sabia exatamente do que chorava, se era da letra, se era o fato de estar atada, se era porque essa combinação me deixou paralisada, exatamente como fico em minhas crises depressivas. Aí ouvi uma uma voz dizendo "dança!", eu estava esquecendo que tinha que dançar. Era uma dança doída. À passos curtos, tentava mover meus braços quando finalmente apoiei uma palma contra a outra, que por sua vez virou apoio para o meu queixo. Prosseguia a dança desconsertada, em uma luta por mover-se quando finalmente veio o grito em forma de música que dizia "Tá na hora de reagir! Entender que somos gigantes, ocupar o nosso lugar, acolher nossas almas" E nesse momento deveríamos arrebentar aqueles barbantes muito bem presos. E mais uma vez chorei. Sou gigante! Olha eu aqui! Sem medo de reagir às adversidades da vida, me doando, falando coisas que não tenho coragem de dizer pra ninguém. Acho que foi a primeira vez que eu falei que era vulnerável em público, desde que Lia no Museu disse que esse era o meu defeito e eu fiquei muito ofendida. Hoje eu entendo, agradeço e acolho todas as suas críticas, foram fundamentais para o meu crescimento! Como segunda dinâmica, em um caldeirão com uma vela no meio, pegamos aquelas limitações do chão, que arrancamos de nossas mão e pés e vamos queimá-las. Eu mandei simbolicamente minhas inseguranças e medos todas ali. E na verdade eu entendi que vou continuar sentido elas. A diferença vai ser minha atitude quanto a elas. Não vou fugir, não vou me omitir, não vou me anular e silenciar nunca mais. Embora domingo e segunda tenham sido dias de anulação. A evolução é cíclica e lenta. Mas espero estar fazendo estas práticas pra que consiga acelerar o processo.
    Após, pegamos nossos objetos de infância. Queria partilhar e explicar a simbologia de cada um, mas não havia tempo, Então só mentalizei. Levei 2 fotos que imprimi em Polaroid para não deixar de levar, me dei conta que não tenho nenhuma foto física comigo. Espero que elas estejam bem guardadas. Inclusive, nesse momento, sinto o cheiro de guardado forte, mesmo cheiro que senti quando mexi nas coisas do meu pai e mesmo cheiro que senti com meus objetos de infância. Senti agora, enquanto escrevo. Não sei se o cheiro é real ou projeção da minha mente. Atualmente é o cheiro que me faz pensar no meu pai. As fotos que escolhi foram minhas criança com minha boneca de cabelo azul, eu adorava vestir ela com minhas roupas, minha companheira inseparável até eu afundar a cara dela e começar a sentir medo. A segunda foto "no quintal do meu pai", usando apenas shorts, cabelo bagunçado, brincando na terra igualzinho o menino Mogli. Meu segundo objeto era um livro. "Marcelo, Marmelo Martelo". Era meu livro favorito de infância. Tanto que guardei ate hoje comigo. Está todo riscado, desenhado, pintado. É muito louco pensar que fui eu quem fiz aquilo. O terceiro foi um desenho. Na verdade, uma história em quadrinhos. Está datado, então eu sei quantos anos tinha. 8 anos.

 "ah que saudade que tenho 
da aurora da minha vida
da minha infância querida
que os anos não trazem mais"

    Essa música ecoou sobre mim apenas hoje. Lembrei da minha vó, que já nos últimos estágios de Alzheimer cantava muito essa música. Curioso pensar que ela cantou e se lembrou dessa música em seus últimos anos de vida, quando ela não lembrava de mais ninguém. Mas enfim, voltando à minha história em quadrinho. No primeiro quadrinho tinha uma criança chorando porque tinha perdido seu balão. No segundo quadrinho, a criança teve uma ideia! Pegou sua cabeça, e no terceiro quadrinho vemos a criança feliz brincando com sua cabeça flutuante como se fosse um balão. Meu pai achou lindo e decidiu poetizar. 

"A tristeza 
e a felicidade
estão em suas mãos
cabeça 
e assaz sagacidade"

    Sempre quis fazer um quadrinho com esse desenho. Nunca o fiz. Durante anos nunca soube o que era assaz sagacidade. Talvez só saiba agora. Enfim. Eram esses meus objetos. 
    E nesse momento, era o momento de de olhar bem pra eles. Olhar a alma desses objetos. E eu vi. Me vi. Agora era o momento de me apresentar de novo. A Lulu, a Tringuilim.

"Tring Tring Tring Tringuilim
Menina assim, meio assim assim ASSIM!
Tring Tring Tring Tringuilim
Morena esperta com cara de sapeca
Acorda com a corda toda
E tudo quer saber como é que éééé
A Tring dedo na boca
De pé descalso
Só faz o que ela quer!"

    Não foi assim que eu me apresentei, mas era assim que meu pai me apresentava para o mundo. Acho inclusive que o pouco de auto estima que tenho, tenho graças ao meu pai. Não consegui me apresentar no presente, como as outras mulheres. Mas disse o que me veio. Uma menina que adora água, seja de piscina ou de praia. Que adora brincar no mato, fazendo comidinhas com grama e terra para minhas bonecas. Brincava muito sozinha, é verdade, mas sabia brincar sozinha como ninguém. Acolhi aquela Luiza, que sempre queria um colo e me achavam chata por pedir atenção. "Um grude!" Isso quando tinha alguém pra eu receber algum tipo de atenção. Adorava ficar doente. Até hoje minha comida afetiva favorita é cream cracker com chá porque era o que minha mãe me dava quando eu estava com dor de barriga. Inclusive, decidi fazer gemada agora pois estou com bronquite e não aguento mais tossir, outra bebida afetiva que fiz questão de ligar pra minha mãe saber a receita dela, não da internet. 
     Após tudo isso, aí sim nos foi ofertado os Ninos Santos. Sob uma bela condução e uma bela playlist, fomos invocadas a dançar, ou ao menos se mexer. Deixei meu corpo mover da maneira que ele quis. Vez por outra é um alongamento, Vez por outra mexer partes estagnadas. Dançar a minha dança interna. Aquela que eu não tenho coragem de dançar quando estou na rua curtindo um samba ou numa festa. Deixei a música me levar e algumas músicas não fazia sentido pra mim dançar, simplesmente parei. 
    Depois de muito mover, fomos convidadas a sair. Ir ao lado de fora, na cachoeira. Meu momento favorito, sem dúvidas. A Gi nos convidou a criarmos um totem de argila a partir de nossas vivências. Achei tão potente! Especialmente tendo em vista que tinha passado por uma experiência com argila não faz muito tempo em uma formação em Pedagogia Regenerativa. Inspirado na agricultura regenerativa. O homem criou a agricultura ao seu bel-prazer, sem levar em conta que a natureza já é perfeita e não precisa de manipulação pra se tornar melhor. Criamos hectares de terras inférteis por achar que somos inteligentes. Começamos a ter pragas, ervas daninhas. Porque o homem estava trazendo um super desequilíbrio ao que é natural. A partir desse pensamento, Rafael Bittencourt, criou a Pedagogia Regenerativa, seguindo o mesmo princípio. A criança é a forma mais natural do ser humano. Mas nós insistimos em incutir cultura, algo não natural, criado pelos humanos, pelos adultos, achando que detém muita sabedoria. E assim criamos crianças rebeldes, que não sabem lidar com regras, que não têm domínio sobre o corpo. Então Rafael criou essa nova pedagogia, incluindo a criança ao seu ambiente mais natural. Ele vê essas transformações comportamentais dia-a-dia. Estou encantada com esse conceito. Bem, durante essa formação, fomos convidados a criar o nosso território para nós e as crianças. Só conseguia pensar em uma coisa pra fazer. Uma árvore. E a cada vez que eu tentava criar um novo galho ou uma nova raiz, ela se desfazia, caia e se modificava. Foi frustrante fazer aquela árvore. Foi também um pouco caótico pq estava num processo intenso de fazer ela ficar mais bonitinha e quanto mais eu colocava a minha mão sobre ele, mais bagunçado ficava.  Uma coisa que o Rafael disse e me emocionou muito é que tinha uma árvore grande, linda cheia de galhos no espaço escolar onde ele trabalhava. E aí ele teve uma ideia que até hoje ele sente que foi uma das suas melhores ideias. Ele colocou uma escada na árvore. Agora as crianças podiam acessar, brincar em seus galhos e havia no topo, um toco cortado onde as crianças adoravam sentar e ficar ali por horas. Me emocionei refletindo sobre. Minha maior frustração no fim das contas foi não poder levar meu território pra casa porque se eu tirasse dali corria o risco de quebrar no caminho. Foi exatamente isso que me aconteceu novamente, dessa vez em cima de uma pedra, onde o fluxo de água  era constante. Eu sentei com meu pedaço de argila e pensei "essa finalmente vai pra casa" e o processo tornou a se repetir. Eu fazia um galho, caía o outro. Eu tive uma ideia idiota, que na hora eu achei genial. E se eu moldar esse totem em cima da palma da minha mão, deixando os galhos escorrerem sobre os dedos? Ele sempre encaixaria perfeitamente na minha mão! Durante o processo perdi uma das mãos para moldar, tornando o processo difícil. Mas não é assim que á vida se apresenta pra nós? A cada galho conquistado, um possível corte. Mas não tem problema, vamos fazer outro galho. Outro corte. Mas esse corte muito bem pode ser aquele cotoco de árvore onde as crianças sentam e refletem sobre a vida. Uma coisa que fiz questão de fazer dessa vez nessa árvore foi a escada. E toda hora enquanto eu moldava a argila, ela sumia. E eu fazia a escada de novo, e de novo. Podiam faltar galho e raízes, mas nunca a escada. Precisei parar de moldar porque se me deixassem, eu ficaria ali até o anoitecer. Mesmo depois que acabou, continuei com minha ferramenta tentando moldar, melhorar aquela peça enquanto tomava o meu chá gelado. Nos foi sugerido que deixássemos as peças no restinho de sol que ainda tinha e eu estava com medo de quebrar e realmente quando tentei tirar do lugar, começou a rachar. Foi então que a Gi chegou e disse que tudo que eu precisava era de carinho e um pouco de paciência. Delicadamente ela foi acariciando a peça até ela se recompor. Retirou com muita calma a peça e deu na minha mão. Foi lindo!
    Fomos nos trocar. Colocamos roupas quentinhas e nos aconchegamos de volta ao salão. Ao chegar, sinto uma fraqueza que me desconcentra um pouco. A Gi pede que nós formemos duplas, mas dessa vez não foi possível escolher. Então, ela pede para nos levantar e em círculo esticar os braços e fechar os olhos. Os pares iriam se encontrar desta forma. Dessa vez a dinâmica era dar colo à nossa dupla. Minha dupla era a Luisa, minha xará. Pessoa inclusive com quem realmente me conectei. Ofereci primeiramente o colo. E senti que aquele gesto me reorganizou. Mesmo quando era minha vez de receber o carinho, não conseguia parar de dar carinho. No próximo momento, iríamos nos conectar a nossa dupla pela ponta dos dedos. Foi um momento gostoso, leve, onde rimos muito!
    Nesse momento, para dar continuidade, foi oferecida uma roda de rapé, medicina na qual me identifico muito. E eu fui a primeira a aceitar. Minha intenção foi integração de tudo que estava vivendo aqui. O sopro foi forte, mas me senti muito bem. Fiz a limpeza, porém senti que era isso que eu precisava no momento, colocar algumas coisas pra fora que já não me cabiam mais. 
    Voltei mais uma vez ao salão depois de me recuperar da limpeza. Agora seria um momento de relaxamento com sound healing. Que troço delicioso! Levantamos mais uma vez para dançar, só que dessa vez como crianças! Foi um fechamento incrível! 

"Com Júlio na gaita e a bicharada no curral
dizendo tchau tchau tchau cocoricó
tchau tchau tchau cocoricó!"

    Deixei minha criança fazer o que quisesse de mim! Tudo que eu era reprimida. Todos os olhares de julgamento se converteram em admiração pelas minhas danças malucas! 
    Pra finalizar, iríamos levar nossos lanches. Levei meu quibe, versão veganizada com abóbora, e como um bom quibe não faz sentido sem o tabule, levei tbm. O prato que minha mãe adorava fazer no verão, virou o meu prato favorito do verão. Foi delicioso aquele lanche, realmente, estava com um sabor especial. Depois de tantas horas sem comer, aquele lanche ficou especial!
    Finalizados os trabalhos, fui ao meu celular com muitas mensagens putas do Vinicius. Com o áudio do motorista que foi socorrer o nosso da Doblo. Era um áudio forte, dizendo que o carro estava a ponto de explodir. Levei a Gi que ao refletir com seu companheiro, chegou a decisão de que deveria levar essa questão para o grupo. Foi quase unânime a decisão de não voltar com ele.
    Compramos a passagem das 2:55 da madrugada, que era o primeiro ônibus após a decisão de que não voltaríamos com o motorista. Algumas descansaram, outras não quiseram dormir. Enquanto isso, eu estava numa DR sem fim com o Vinícius. E não adiantava o que eu dissesse, nada era suficiente para me fazer me sentir melhor até o ponto que eu pedi pra ele respeitar meu tempo. Não estava em condições de entrar naquele tipo de atrito, tinha acabado de sair de uma vivência potente e mal tive tempo para processar. Foi então que ele me solta uma: 
"Vou deixar em negrito aqui:
Vou respeitar seu tempo e suas vivências. 
Então respeite o meu tempo e vivências também."

    Um tom horrível pra trazer naquele momento de estresse. Como muitas outras vezes de estresse no passado, aquele tom era de ameaça. E dali pra frente ele parou de me responder, as mensagens nem chegavam mais. Achei completamente desnecessário, infantil e desestabilizador pra mim. Conseguimos conversar depois disso. E eu deixei claro que só estava ali, não por mim, muito menos por ele que nem queria que eu estivesse respondendo. Mas pela nossa relação. Pelos 7 anos de construção juntos. Nada, absolutamente nada foi capaz de inibir sua raiva. Muito menos meu amor. No fim nos resolvemos, mal resolvido a beça. Mas prefiro esperar a raiva passar  pra colocar tudo pra fora também. Até porque, quero um companheiro, não um pai. Acredito que esta seja mais uma curva de desenvolvimento para evolução de nós dois. E se não me couber mais, se as coisas não mudarem, vai ser sofrido, mas não vou me permitir me machucar por mais ninguém. 



quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Tempo perdido

Tantas horas perdida em meio a uma enxurrada de informação inútil. Tantas horas assistindo mini comidinhas, gameplay, react de vídeos. Tantas horas gastas vendo stories de pessoas que sequer estão na minha vida. Parece sem fim.
Tantos livros deixados de lado. Tantas escritas perdidas para sempre. Não tenho lá uma das melhores memórias. E pior ainda consumindo o que consumo. É de emburrecer mesmo. 
Espero que ainda dê tempo. E que eu não tenha uma recaída. 

 Não consigo acreditar que aos 33 anos, passo as mesmas crises dos 23, 24

Minha vida parece parada no tempo, estagnada

Mas na verdade o maior problema são os fechamentos de ciclo.

Mal consigo finalizar meus textos, quem dirá meus ciclos.

Preciso usar de toda essa energia de Ostara e me desfazer dessa carga juvenil inconsequente

São muitos anos de estagnação e culpabilização da doença que até hoje não sei realmente até que ponto sou eu, até que ponto é a depressão. Até que ponto sou eu sem acreditar que posso ir além.

Não foi isso que eu idealizei pra minha vida. Eu só queria morrer, seria um alívio. Não precisaria mais avançar essas etapas travadas.




terça-feira, 19 de setembro de 2023

19/09/2023

 Nota sobre o dia de hoje. Reprovei na auto escola. Senti a presença da minha criança querendo aflorar, não só por causa da chegada da primavera, mas porque percebi que ao encontrar mais em contato com ela, eu me aproximo da minha essência. Mas antes tenho que curá-la.

Percebi também que o meu pai estava 100% do tempo dele em contato com a sua criança. Mas ela estava ferida e não conseguiu amadurecer e ser um homem de verdade. Mas, sabe... Não é ruim estar em contato com a nossa criança, mesmo doendo um pouco.
Passei em frente de uma peça de tema: "Senão agora, quando?" O cartaz me chamou atenção. Chamou mais ainda a minha atenção quando percebi que era gratuito e hoje, um dia difícil. Quando abri o @ da peça, tive certeza de que eu teria que ir. O Vinicius não quis. Está com 300 coisas na cabeça. Arvore demorou pra me responder. Lá estava eu, sentada em meio do banco do teatro, entre a juventude cult fazendo cena de conhecedora de boas peças, rindo de piadas que não poderia entender. Ao lado de um casal de idosos, aposentados de Ipanema, que provavelmente frequentavam o espaço, eles tinham intimidade em estar lá. Enquanto Amélia estava impressionada com um nascimento, mostrando ao seu companheiro, ele se mostrava impaciente e dizia repetidas vezes, "isso é uma cesárea, Amélia, isso é uma cesárea, isso é normal!", sendo claro o seu tom de alívio ao findar o vídeo embora não pudesse ver o rosto. Ao entrar, eles estavam lá, na primeira fila, bem no meio.
Decidi sentar na fila de trás. A atriz já estava presente e cumprimenta educadamente a todos que chegavam. Ela já começa dizendo que poderíamos sentar mais a frente, não haveria interação com o público. Que alívio! Logo em seguida, ela olha fundo nos meus olhos e pergunta: "Você! Sim, você mesmo. Qual é o seu nome?" "Eu? Tem certeza?" "Sim, você! Se pudesse voltar no tempo e escolher um momento para viver de novo, qual seria?" Fico pálida. Incrédula de sua pergunta, tão específica direcionada para mim, justo para mim naquele dia difícil. Nada, absolutamente nada me vem a mente. E eu juro que pensei, "será que eu não tenho mesmo momentos que eu não queira viver de novo?" Não consegui responder. E ela simplesmente pergunta a outras pessoas na plateia. As outras pessoas respondem com a maior facilidade, enquanto a pergunta me pega de forma brutal em reflexão. Enquanto a peça prossegue contando a vida de uma mulher solitária, que mudou para o Rio em busca de uma vida diferente da que tinha, longe dos pais tóxicos, mas era o que ela tinha de referência como amor, me identifico completamente. Mas a festa de aniversário... Nossa, essa bateu de um jeito... Ela contava para sua mãe ao telefone que tinha ido a uma peça de teatro onde a atriz perguntava para todos na plateia, se pudessem voltar no tempo para reviver um momento feliz, qual viveria, todos respondiam com facilidade. Mas quando a atriz se dirigiu a ela, se desconcertou e não soube responder pois não conseguia lembrar de um momento bom no qual ela gostaria de viver novamente. Nesse momento, não pude me conter, meus olhos se encheram de lágrimas. Ao passo que a peça se desenrolava, me reconhecia dentre os muitos vizinhos e a vida que já tentei reconhecer por muitas fases da minha vida. Mas eu fui mais além ainda. Pensei novamente no pai, seu encantar com a vida e olhar a vida acontecendo, e ao mesmo tempo, sua solidão, onde ele tinha se tornado espectador e narrador da vida de terceiros. Morreu sozinho, isolado do mundo. Nem mesmo pra se despedir tinha gente.
Eu sei que ele amava a vida, mas pensava na morte tanto quanto eu. Eu tenho suas agendas de anos. Posso inclusive catalogar suas histórias dos dias de aniversário de morte e descobrir se foram dias felizes ou dias sombrios. Mas não consegui nem ao menos catalogar seus mais de 2 mil poemas que ele tinha como sonho publicar.
Eu não sei se essa nota terá um final desejado. Aliás, nem nota mais esse texto é. Tá mais pra uma memória que será esquecida pelas redes depois da minha morte.



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

 Suas demandas me trazem confusão sobre uma outra realidade vivida

mas que definitivamente não existe mais.

Precisei de 1 dia e meio pra me dar conta de um monte de coisas que eu via mas não enxergava

Minha admiração por você foi se perdendo em meio a mentiras e verdades mal ditas

Malditas!

O meu cansaço tá alinhado à sua falta de presença quando do meu lado fisicamente

Você vive uma vida desejando outra e quando consegue, sente falta da anterior

Eu tenho depressão, mas é você que esquece de aproveitar os momentos que eram pra ser felizes

Preocupado demais em lá na frente ser o fodão

te garanto

Continua se preocupando mais com o fim e esquecendo do trajeto

Lá no final estará vazio.

Cheio de conhecimento mas zero sabedoria.

sábado, 16 de outubro de 2021

 Desde que coloquei em xeque minhas convicções

me faltam motivações.


Sonhava em ser missionária, ajudar pessoas

a luz da consciência veio para me mostrar que é ilusão

levaria pessoas a enxergar as sombras de uma realidade bonita

de uma comunidade bonita

do amor...

Um convite a participar de uma bolha muito bem fechada e protegida

cuidada e unida

A ignorância é uma benção.


Hoje corro em busca de entender o ininteligível

Apreender uma nova realidade

e...

Quanto mais eu entendo, mais quero me alienar

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

 Você não sabe como é ter que ligar no Jornal Nacional pra me sentir mais em casa

Como é fazer algo em que sente orgulho e não ter com quem compartilhar

Eu sou boa em ficar sozinha sim, tá?

Mas a longo prazo vai ficando insuportável.


Você não tem a menor noção do que é ser a segunda, terceira opção das pessoas ao seu redor

daquelas pessoas que você tanto ama

Daquelas que estão em primeiro lugar pra mim

Não faz ideia do que é não ser madrinha dos filhos das suas amigas

Do que é se humilhar pedindo ajuda pra pessoas que você ajudaria sem pensar duas vezes

e ouvir um "não dá", "não posso"


Nunca ficou de saco cheio da solidão

Não sabe o que é criar expectativa pra estar na sua companhia,

porque é a única companhia que vou ter depois de dias

E você teve demandas demais pra atender, você não vem.

Ou assistir um vídeo seu, ouvir um áudio seu que não era originalmente pra mim...

Não me sentir importante o suficiente pra você.


É desgastante demais me sentir não tão importante. 

Nem pra você nem pra ninguém.

tô cansada.






Ostara

    Quero escrever pra não perder nenhum detalhe. Para processar. Minha vontade agora era me perder nas redes sociais, como de costume. Mas ...